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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Quem, afinal, cria tecnologia no Brasil?


Quem, afinal, cria tecnologia no Brasil?
Para o professor Ennio da Silva, o desenvolvimento tecnológico é uma demanda social que cabe à universidade pública atender.
 por Carlos Orsi (19/06/2012) em Brasil, Ciência
 Dias atrás, passei praticamente uma manhã inteira conversando com o professor Ennio Peres da Silva, responsável pelo Laboratório de Hidrogênio (ou “LH2″, como também é conhecido) da Unicamp. Criado durante o choque do petróleo da década de 70, o laboratório nasceu como parte do esforço realizado pelo Brasil, na época, para se libertar da dependência do óleo importado. O raciocínio, explicou-me o professor, era o seguinte: o Brasil da época tinha escassez de petróleo, mas eletricidade abundante. Haveria, então, como transformar a eletricidade em combustível? Uma opção seria usar energia elétrica para separar o hidrogênio da água e, então, usá-lo para mover veículos. Os carros elétricos Vega, movidos a célula de combustível de hidrogênio, são uma das criações do LH2. Não seria difícil olhar para o LH2 como uma espécie de relíquia dos anos de nacionalismo e estatismo megalomaníacos da ditadura, e aos carros Vega como uma espécie de elefante branco, mas o laboratório não se limitou a construir o carro elétrico. Pesquisas sobre o uso de fontes renováveis (como energia solar) para a produção de hidrogênio estão fazendo do LH2 um parceiro cortejado por grandes empresas do setor elétrico. Principalmente com o crescimento das fontes renováveis intermitentes — o vento e o Sol, por exemplo, que afinal de contas não têm intensidade uniforme, e periodicamente somem — a geração de hidrogênio aparece como uma opção para estabilizar o fluxo: o gás pode ser extraído da água com a energia que sobra nos horários de pico de produção, e depois queimado para devolver a potência, nos horários de pico de consumo. A despeito desse novo papel no cenário energético brasileiro, o LH2 representa uma espécie de “anomalia ideológica” na cultura atual da universidade pública e da visão corrente sobre inovação tecnológica, a ponto de o professor Ennio não ver muitas chances de o laboratório sobreviver a sua aposentadoria, que se aproxima (ele trabalha no LH2 desde 1978). Essa visão predominante é que o que o laboratório faz deveria, na verdade, estar sendo feito na iniciativa privada: a função da universidade pública seria gerar o conhecimento bruto, talvez até algumas patentes, mas o desenvolvimento final do produto — o carro elétrico, o sistema de porcas e parafusos para transformar energia solar em hidrogênio — seria serviço de empresas. Grandes corporações ou mesmo as chamadas empresas spin-off ou startup, que poderiam até, eventualmente, ser fundadas por acadêmicos, mas que estariam institucionalmente fora da universidade. Ennio concorda que essa estrutura hipotética faz sentido — “seria ótimo se a universidade pudesse só dar aula”, disse-me — mas considera a proposta utópica para a realidade brasileira. “As empresas brasileiras mal conseguem pagar os funcionários, vão pagar pesquisadores?” Para ele, o desenvolvimento tecnológico é uma demanda social que, dado o status quo brasileiro, cabe à universidade pública atender. “Sabe por que a universidade é capaz de fazer pesquisa?”, provocou. “Porque quem faz o grosso da pesquisa é mão-de-obra grátis. É estudante de pós-graduação, que nem é a universidade que paga, é a Capes”. Confesso que essa última declaração me deixou meio desconcertado mas, pensando melhor depois, não consegui ver bem onde acabava a descrição fiel da realidade e começava a hipérbole. De fato, fiquei desconfiado de que não havia hipérbole. Mas será isso mesmo? O destino econômico do país está pendurado no entusiasmo de jovens bolsistas mal pagos pelo governo federal?
 MODIFICADO DE: http://www.amalgama.blog.br/06/2012/quem-cria-tecnologia-brasil/

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